quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Meu amor é um homem casado


O primeiro sentimento que vem à cabeça quando se descobre um adultério é a raiva. Depois vem frustração, culpa, medo, nojo, vingança.

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E dificilmente se para pra pensar que, no meio dessa nova (ou antiga) relação do marido ou namorado, por exemplo, há outra mulher, também cheia de sentimentos e inseguranças. Não que as amantes mereçam o perdão simplesmente por também amarem, mas estar na pele delas não é tarefa fácil.

Renata ficou oito anos com um homem casado. Sonhava com o dia em que ele largaria a esposa e os filhos para começar uma vida com ela. Nem a gravidez deu jeito. "Eu nunca senti raiva da família dele. Era mais um sentimento de inveja mesmo. Queria muito estar no lugar deles", lembra. Hoje com 41 anos, ela segue a vida sozinha, criando o filho sem o nome do pai na certidão.
O amante de Renata nunca teve coragem de abandonar a vida que tinha, mas manteve falsas promessas por muito tempo. Os dois viajavam juntos, dividiam algumas noites o mesmo apartamento, bancado por ele, faziam planos.

"Levou tempo, mas percebi que era assim mesmo que ele gostava. Só às vezes, só para sair da rotina, só porque era mais nova e não fazia cobranças", lembra. E foi quando ela começou a cobrar (e até ameaçar revelar a verdade) que ele deu um basta na relação. "Ser a outra é muito difícil. Mulher nenhuma quer passar por isso, ter que esconder o homem que ama. Mas às vezes esse é o único jeito".

Silvia, 38 anos, desistiu de deixar de ser a outra. Hoje sabe que nunca conseguirá ser a oficial e já não sofre mais por isso. "Fiquei com ele às escondidas por quase 15 anos. Hoje a família dele sabe que existo, sabe do nosso filho, e vivemos todos a mesma mentira", lamenta.

Quando conheceu o amante, 17 anos mais velho, não sabia que ele era casado, mas a história real não demorou a se revelar. "Queria sair com ele, apresentar para todo mundo e não podia. Morava numa cidade pequena e ele pedia segredo", lembra. "Só fui entender tudo quando o vi, com família, filhos e até um neto, num restaurante. Achei que ia morrer. Mas lembro dele me encher de presentes e promessas. Não consegui terminar".

Essa dependência do amante é muito comum em relações às escondidas. Muito porque a figura idealizada do homem amado se sustenta bem em mentiras e promessas. Insegura, a mulher fica cada vez mais dependente - até financeiramente - desse homem e não consegue se imaginar numa relação normal.

A escritora e pesquisadora Mirian Goldenberg, autora do livro "Por que homens e mulheres traem" (BestBolso, 2010) lembra como essa "outra" é normalmente rechaçada pela sociedade. "Ela é vista como promíscua e destruidora de lares que ameaça a família monogâmica e a estabilidade conjugal. A vida e o sofrimento dela não interessam. É uma mulher estigmatizada, que o mundo difama, considerada uma prostituta que só tem interesse no dinheiro do homem casado", define.

Essa mulher, por viver normalmente escondida, quase clandestina, se torna invisível. "Ela não cumpre papéis sociais valorizados na cultura brasileira, principalmente o de esposa e de mãe". Mirian lembra, no entanto, que essa outra, apesar de não ser casada legalmente, sente-se profundamente comprometida. "É fiel ao amante e acredita que ele é fiel a ela".

Por outro lado, para elas é "melhor" ser a número dois, a outra, do que a esposa traída, enganada. "A amante tem consciência da situação que vive, enquanto a esposa acredita (ou finge acreditar), que tem uma vida familiar perfeita em que não existe espaço para outra mulher".

Em suas pesquisas, Mirian descobriu que essas relações, às escuras, são normalmente baseadas no prazer, no desejo e entendimento sexual, além de na amizade e no companheirismo. "Essas mulheres são importantes para seus amantes exatamente por estarem com eles sem vínculo obrigatório. É uma relação baseada em um pacto entre dois indivíduos que querem estar juntos sem nenhum tipo de constrangimento social".

Por Sabrina Passos (MBPress) http://www.vilamulher.terra.com.br

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